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Desmistificando a intolerância à lactose e a alergia à proteína do leite de vaca (APLV)



Cólicas, distensão abdominal, diarreia – quando prolongadas – merecem ser analisadas com mais cuidado.


Por apresentarem sintomas bastante parecidos, há muita confusão acerca do diagnóstico de intolerância à lactose e alergia ao leite de vaca. Para esclarecer de uma vez por todas, vou explicar a diferença: o leite é composto por carboidratos (lactose), gorduras e proteínas.


Quando falamos em intolerância à lactose, nos referimos ao açúcar do leite e ela acontece quando o organismo do indivíduo produz de forma deficiente ou não produz a lactase, que é a enzima responsável pela quebra e digestão da lactose, para que seja absorvida corretamente. No caso de alergia, é a proteína a causadora dos sintomas.


Logo, os termos “alergia à lactose” e “intolerância à proteína do leite” não existem!


INTOLERÂNCIA À LACTOSE É PROBLEMA DE CRIANÇA?


Os bebês nascem com um nível alto de lactase – a enzima que digere a lactose. Como a natureza é incrível, né? Nada é por acaso – os seres que passarão os primeiros meses alimentados exclusivamente por leite materno, têm altos teores de lactase!


A medida que as crianças crescem, com cerca de 4 ou 5 anos de idade, como a necessidade de ingestão de grande quantidade de leite diminui, cai também o nível de lactase.


É extremamente raro um bebê nascer com a forma congênita da doença, ou seja, nascer sem lactase ou com déficit da enzima. Logo, é rara a intolerância à lactose em bebês em fase de aleitamento.

Porém, o quadro pode acontecer quando a criança enfrenta outras doenças como diarreia crônica ou desnutrição, assim a intolerância à lactose aparece de forma secundária, como consequência de outra comorbidade. Como atualmente vivemos em um meio com boas condições sanitárias, incentivo ao aleitamento materno, combatida a desnutrição para grande parte da população e com a vacinação ampla para o rotavírus, é bem pouco frequente encontrarmos lactentes com quadro de intolerância à lactose.


Já nos adultos e idosos essa condição é mais comum pois com o passar dos anos a nossa quantidade de lactase diminui gradativamente. Muitos adultos nem sabem que são intolerantes, pois naturalmente encontram um equilíbrio entre a quantidade de leite e derivados ingerida e os sintomas que sentem como gases, cólicas, diarreia, sensação de estufamento e distensão abdominal.


E A APLV? QUANDO SUSPEITAR?


A alergia à proteína do leite de vaca é a alergia alimentar mais comum da infância, podendo acometer de 2 a 5% das crianças até 2 anos de idade.


Os principais sintomas são:

- Diarreia

- Constipação

- Sangue nas fezes

- Anafilaxia

- Eczema

- Angioedema

- Edema de lábio

- Rinite

- Congestão nasal


Alguns sintomas são bastante semelhantes à doença do refluxo gastroesofágico, como recusa para mamar, choro intenso, irritabilidade, baixo ganho ponderal a despeito de manejo clínico adequado da amamentação e da oferta correta de complementos, cólicas, etc, o que pode tornar o diagnóstico mais desafiador.


A alergia alimentar é classificada quanto ao seu mecanismo imunológico deflagrador, ou seja, uma resposta exagerada do sistema imunológico (no caso da APLV – as proteínas presentes no leite de vaca como a caseína, alfa-lactoglobulina e beta-lactoglobulina).


DIAGNÓSTICO DE APLV – NÃO SE ENGANE


O diagnostico de APLV se baseia em 3 pilares:

1. Suspeita diagnóstica (história clínica e exame físico compatível)


2. Recuperação clínica após dieta de eliminação do leite de vaca e derivados (eliminação, não diminuição)


3. Teste de provocação oral positivo após 4 a 8 semanas, ou seja, reapresentar o leite de vaca e os sintomas reaparecerem, o que confirma o diagnóstico.


Exames laboratoriais como Imunocap e Prick teste podem ajudar pois eles indicam a sensibilização, mas sozinhos não fazem o diagnóstico. O diagnóstico é clínico e só é confirmado após realizados esses 3 passos descritos acima.


OS 10 MANDAMENTOS PARA NÃO CAIR EM CILADAS DA APLV


1. O uso de Pré e probióticos não têm evidência de prevenir ou tratar a APLV.


2. O que realmente tem evidências de prevenção da APLV são: parto normal, evitar tabagismo, evitar uso indiscriminado de antibióticos, principalmente no primeiro ano de vida, aleitamento materno até 6 meses!


3. Nem todo bebê com cólica tem APLV. A cólica é um evento fisiológico do período inicial da vida.


4. Nem todo bebê com regurgitação tem APLV!


5. Nem todo sangramento nas fezes é APLV!


6. A alergia não é para sempre. Com um ano até 50% dos bebês apresenta melhora dos sintomas, com 3 anos, 75% e até os 6 anos, 95% já pode consumir leite de vaca e derivados sem qualquer problema.


7. Para lactentes em uso de fórmulas, as parcialmente hidrolisadas não são indicadas. Devem ser usadas apenas fórmulas de aminoácidos ou extensamente hidrolisadas.


8. Diminuir o consumo de leite não é efetivo na investigação de APLV. A dieta é de exclusão total.


9. Conte com um nutricionista para te ajudar com as opções no cardápio e com a reposição de cálcio.


10. O pediatra, identificando o problema após o período de investigação, deve encaminhar o paciente ao alergista/ imunologista ou ao gastroenterologista para seguimento adequado do problema.


Texto: Dra. Geiza Nhoncanse

Pediatra - CRM 166942 / RQE 83466


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